prosabarbara
Contos, crônicas e casos de amor. Amor pela vida, pela arte e pelo humor.
quinta-feira, 5 de maio de 2016
Fim da adolescência
Cabe num código de barra
Cabe numa ruga, numa briga
A vida adulta
Cabe em dois dedos de céu
Cabe numa caixa de aluguel
(sem janelas)
A vida adulta
Cabe num ônibus lotado
Cabe no varejo e no atacado
Cabe no zero do lado errado
e no condomínio atrasado
A vida adulta
Só não cabe num poema
De tão pequena...
domingo, 1 de dezembro de 2013
Caio, a vítima.
sexta-feira, 7 de junho de 2013
A Balada do Nascituro
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013
sábado, 5 de maio de 2012
Cada ano que passa...
E o que nos fazemos a partir do momento em que nascemos senão envelhecer? A cada expiração estamos mais velhos, é a condição natural. A velhice é uma inesgotável fonte de sofrimento, mas a alternativa a ela é a morte, uma escolha não muito difícil. Sabemos bem que todo ser vivo, por mais ínfimo e simples que seja, tem sempre o mesmo objetivo: sobreviver, não importa quais sejam as circunstâncias. Então nosso objetivo maior é justamente ficarmos mais e mais velhos, aproveitando ao máximo esta oportunidade chamada vida que estamos tendo. Por isso comemoramos aniversários, não para lembrar que estamos cada vez mais perto da morte, mas para celebrar mais uma fatia de tempo na qual escapamos dela.
terça-feira, 10 de janeiro de 2012
Cracolândia Expandida
Já fui assaltada três vezes em São Paulo, duas delas foi por noias – essa abreviação carinhosa pela qual chamamos os dependentes de crack. Se alguém ficou na dúvida a respeito do acento, saibam que a palavra paranoia mudou com a Reforma Ortográfica, sendo assim noia fica sem acento; mudou a palavra, a realidade continua a mesma.
Das duas vezes que fui assaltada por noias, uma delas foi na região da Luz e pasmem, isso foi em 1996 quando eu estudava naquela região. Já naquela época todos sabiam os efeitos devastadores do crack, seja pelo lado da saúde, seja pelo lado social e no entanto, a cracolândia continuou lá, aos olhos da PM e da prefeitura. Às vezes uma ação deslocava os noias de um lado ao outro, mas tudo continuava igual.
De lá para cá, muita coisa mudou. Hoje já há um certo consenso entre especialistas que esse problema é de saúde pública e não de segurança, que devemos encaminhar essas pessoas a tratamento especializado e interdisciplinar, mas aí nos deparamos com algo que a meu ver corrói muito mais a mente dos cidadãos do que qualquer droga é capaz: a ignorância e a passividade.
Como um problema que ocorre há décadas vai ser resolvido de uma hora para outra com a ação da PM? Por que nada foi feito e só agora, no começo do ano no qual teremos eleições para prefeito é que há esta ação equivocada e truculenta? Fica fácil responder se ligarmos essa ação com a favela altamente inflamável que sumiu na região e o loteamento que o nosso ilustre prefeito está fazendo desse mesmo bairro às empreiteiras que financiarão sua campanha.
Se você ao ler este último parágrafo pensou algo como : “isso sempre aconteceu” ou “ não há nada a fazer, política é assim mesmo” , reflita bem sobre quem realmente são os mortos vivos perambulando na cidade sem consciência nem esperança, talvez a resposta não seja os pobres coitados da cracolândia, mas sim os noias, viciados em gestões públicas irresponsáveis e informações manipuladas que irão como zumbis votar igual nas próximas eleições.
quarta-feira, 31 de agosto de 2011
Bruxa média
Eu sou a bruxa má,
que no alto da minha torre
Aprisiono minha gastrite
e a minha dor de cabeça
Nos meus portões não entram
Nem a fome, nem a guerra
Porque sou protegida
Por meus porteiros paraíbas
Vivo na escuridão
do meu insulfilm
E as magras princesas
me sorriem
Da janela iluminada
no meio da minha sala
E mesmo nunca descendo
ao mundo real
Minhas magias atingem
o mundo inteiro
Pela fibra ótica
eu destilo meu veneno
Se as grades escondem
o meu rosto feio
Minhas palavras revelam
todo o meu pensamento
médio e pequeno.
15/07/2003
quarta-feira, 3 de agosto de 2011
Queria ser sua mochila
Queria ser sua mochila
E ir com você viajar
Levando em mim
Tudo o que precisa
Colada ao seu corpo
Sempre junto a você
Mas te deixando livre
Para abraçar a vida
quatorzedejulhodedoismileonzequintaatardeociosadesolcomoklinnointerior
domingo, 17 de julho de 2011
O valor da vida
Isso não está certo. Como ele foi tirar nosso filho? Ela mereceu mesmo o que aconteceu . Minha mãe disse que eu fiz a coisa certa. Onde já se viu? Acabar com uma vida. Vamos ter esse filho. A grana está curta, mas a gente consegue. Ela sempre foi guerreira. Trabalhava fora, cuidava sozinha da casa. Ela podia fazer mais uns bicos de limpeza, por exemplo. Eu já bancava tudo, poxa. Mas não, insistiu. Não era certo o que ela ia fazer. Um lugar clandestino, uma prática ilegal. Puta merda! Tive que denunciar. Só não imaginava que o doutor fosse soltar pra imprensa, né. Dava até pena de entrar no Facebook dela. Todo mundo descendo o cassete, poucos tinham coragem de dar apoio. A pressão foi tanta que acabou presa. Também? Pra uma pessoa que faz isso, uma assassina, mereceu. Só não entendi como ela conseguiu matar nosso filho mesmo assim. A polícia fechou a clínica antes dela ser atendida, eu estava lá. O médico da cadeia depois falou um tal lance com agulha de crochê. Não acreditei não. Disse que foi por isso que ela acabou doente. Bem feito. Foi é castigo de Deus. Teve o que mereceu. Ainda tinha feminista fazendo protesto no velório dela. Vai se foder. A obrigação dela era amar e cuidar do nosso filho e não fazer o que ela fez. Eu fiz o que era certo.
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
PIETA - Capítulo 1
Quando seu filho sofreu o grave acidente, Mariana ficou desolada. Um menino tão jovem, no auge de sua adolescência, sendo vitimado de maneira tão estúpida. Um garoto tão ativo e saudável, agora preso a uma cama, inerte.
Ficou feliz quando, aos poucos, Cristiano começou a melhorar – embora tivesse ficado com profundas seqüelas neurológicas: andava, mas cambaleando; falava, mas balbuciando; entendia o mundo ao seu redor, mas distorcido.
Sua tristeza aumentou quando o menino voltou a freqüentar a escola. Logo foi chamada, não porque ele tivesse dificuldade no aprendizado ou sofria bulling devido a sua deficiência – era ele que estava causando problemas na escola. Devido à lesão no seu cérebro, já não sabia o que era certo ou errado moralmente e começou a descontar sua libido em todas, todas as mulheres da escola. Agarrava as colegas, passava a mão nas professoras, esfregava-se nas inspetoras, até a senhorinha do portão era alvo de sua libido sem limites.
A mãe, a princípio, não soube o que fazer. Seguindo a sugestão da escola, procurou tratamento psiquiátrico para o filho.
Pensou em prostitutas, mas a ideia de entregar seu filho a uma estranha, e depois ainda pagá-la por isso, assustava-a. Seu filho jamais arrumaria uma namorada, ele mal conseguia falar, babava e, ainda por cima, atacava qualquer mulher que chegasse perto.
Foi quando, ao dar banho nele, notou sua ereção no momento em que o ensaboava. Logo percebeu que ele apertava seu seio e a olhava com olhar de cachorro com fome. Pensou nos sermões da igreja, na primeira vez que o viu na maternidade, nos anos de solidão depois que seu marido a abandonara, no que pensariam os vizinhos, mas - quem saberia? Não deixava de ser uma parte de amor materno, o mais incondicional e sacrificante de todos os amores – e colocou seu seio na boca do filho como havia feito muitos anos antes...
sexta-feira, 11 de junho de 2010
Som no Batalhão
Trabalhar perto da estação de metrô da Tiradentes é interessante, Bom Retiro, Luz, centro velho. Logo que se sai do metrô, dos dois lados, há belas construções, como o Museu de Arte Sacra e o Arquivo Nacional, entre eles está também o Batalhão da Polícia Militar. Nos arredores da estação, existem batalhões de vários tipos de polícia, como o da Rota e da Cavalaria.
Hoje ia pegar o trem para correr para a outra escola, em outra cidade, quando no caminho, em frente ao Batalhão, deparei-me com a banda da Polícia Militar, acredito que era. Todos lá, fardadinhos, com seu respectivo instrumento, sentados em cadeiras, no meio da praça onde ficam os mendigos. E tocando com talento.
Imaginei aqueles soldados nas ruas, combatendo o crime, torturando criminosos, mexendo com todo o tipo de meliante. A cara de mal deles frente ao descumprimento da lei, a posição firme de um militar. Naquele momento tudo isso era dissipado na música.
Enquanto fiquei parada lá, eles tiraram dois sons do Tim Maia, com o vocalista, um soldado negro de meia idade, mandando muito bem. Tinha até uma velhinha tentando animar as pessoas.
Gostei de encontrar este fato inusitado no caminho do metrô, os coxinhas, eles mesmos, encheram meu dia de arte. Bem que eles poderiam fazer isso na periferia...
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
O Capital enobrece
vinteeoitodejaneiroombroquebradoquintaquesóchovehá35diassemparar
sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
Série Relatos da crise : A história não vem.
Só seu trabalho e suas mazelas lhe interessam agora. Ela não quer saber da beleza do mundo e dos avanços na sociedade. Ela só fica olhando para o canto de sua imensa sala, pensando em como aperfeiçoar a vida medíocre que ela criou.
Talvez trocar os móveis de lugar, tingir seu vestido branco, esganar sua colega, nada que ela terá coragem de fazer.
O único momento em que consegue não pensar na enorme estagnação de seu quintal é quando se entorpece de diversões baratas, que nada agregam a sua realidade fácil e óbvia. Mas mesmo assim ela continua pensando, só pensando e pesando, cada vez mais e sem utilidade.
Até seus amigos não a veem mais, eles se cansaram de esperá-la, esperar que ela termine seu trabalho, regue suas plantas, tire seus cravos, faça o almoço, enfim, ela sempre está ocupada com o útil, com o pontual, com o politicamente correto.
E agora sim sua vida pode passar no horário nobre, sem restrições; pena que não interesse a ninguém assisti-la.
Série Relatos da crise: 29 anos
10 quilos a mais
1 Graduação
1 Casamento
Emprego fixo
Não mais poesia
É, Bárbara, você achou
Que ia ser fácil,
Mas você está
No mesmo barco
Mediocrizado
Suas banhas
As marcas na sua pele
Seus vícios vulgares
Sua dor de barriga
É assim que tem que ser
Se quiser ter
Terá que pagar o preço
Do começo
Do que a gente chama
De vida civilizada
Uma gastrite
Uma dívida
Mais uma celulite...
b.
numa noitequenteeraradeinverno3deagostodedoismilenovenumatpmenumjejumdequaseumanosemescrever
domingo, 15 de março de 2009
À glória do fracasso.
Ao assumir, humilde e claramente, a responsabilidade que tivemos sobre algo dar errado ou ser capenga, automaticamente aceitamos as críticas e isso de certa forma é bom para nós, que podemos crescer se soubermos filtrá-las e bom para os outros que se sentem contentados com a razão que lhe damos.
A responsabilidade (prefiro evitar a palavra culpa) é nossa e isso mostra que temos a liberdade de decidir. Algo tão raro em nossos dias, poder decidir, tantos as mínimas quanto às máximas escolhas, e fracassar nos faz mais conscientes do quanto somos responsáveis pelas conseqüências de nossos atos. E nas pessoas de verdade, com certeza haverá uma maior preocupação em como lidar com a sua própria realidade.
E é bom, algumas vezes, acordar lembrando de nossas misérias, afinal humildade é definida como “o reconhecimento de suas próprias fraquezas”. É importante lembrar do quanto somos só carbono neste imenso universo e como as nossas insignificantes vidas passarão como um pequeno instante na sua história, ou seja, já nascemos para o fracasso, só cabe a nós sabermos o quanto vale a pena arriscar e por quê.
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
RELATÓRIO DO PROJETO No 28 333 321-2
As atividades seguem normalmente: trampo, balada, amor e embriaguês. Não necessariamente nesta ordem, mas muitas vezes misturados. A conciliação entre esses elementos está gerando dificuldades e as tentativas até agora sugerem que a solução seja eliminar um destes elementos. A coordenação sugere que seja o trampo, porém o responsável do setor administrativo vetou esta possibilidade. Estuda-se, então, que o amor seja o elemento eliminado.
Dentre as várias atividades, é importante ressaltar o ócio e o sedentarismo, combinado com uma alimentação rica em queijos derretidos e suco de cevada. O sono tem sido muito em umas noites e pouco em outras, sempre pesado e acompanhado também do peso da cabeça que, em alguns dias, tem se tornado tão grande que fica difícil sustentá-la, principalmente na atividade balada. Quando isto acontece, o coordenador Bode assume e a balada termina. Bode e os outros coordenadores afirmam haver relação entre o sedentarismo e ócio, ele expõe esta opinião todos os dias durante a balada.
Em relação ao amor fica colocada a questão da necessidade, a coordenação afirma ser imprescindível, mas o setor administrativo coloca que, além de causar um ônus enorme ao projeto, o amor ocupa muito tempo de nossos esforços. Apesar de concordar que os lucros são bons, acusa que a falta de regularidade compromete o andamento de todos os setores. A coordenação se mostrou irredutível até o momento.
A embriagues tem sido umas das atividades na qual a coordenação está mais empenhada. Embora o custo, às vezes, mostre-se alto, enquanto os gastos mantiverem-se dentro do cronograma previsto, não haverá redução, principalmente devido à relação intrínseca entre a embriagues e a balada. A redução das duas atividades só será estudada pela coordenação, se houver danos significativos às outras.
Quanto à possibilidade de acrescentar outras atividades ao projeto tais como arte, caridade e esportes, a coordenação, até agora, tem mostrado-se resistente.
Sem mais para o momento.
segunda-feira, 9 de junho de 2008
O mundo possível
Justino sabia bem do que se tratava. Era fácil perceber: as pessoas saindo de casa por volta da oito da manhã, arrumadas, com a reconhecível pastinha na mão e a esperança nos olhos. Ele sabia que para resolver o problema era necessário ir ao fundo dele, revolver e trazer a tona o que estava em seu âmago, era preciso ir ao centro do problema: Estação República, o centro da cidade que recolhe, mas não acolhe. Não gostava de ser chamado de peão, mas também não entendia o porquê do nome construção civil. Existiriam outros tipos de construções? Os viadutos e prédios públicos que ele construíra eram civis? E o barraco onde morava? Aquilo também era construção civil. Naquele momento, na fila, isso não importava. A carteira de trabalho no bolso e a apreensão no olhar – via que tinha gente de todo o tipo na fila: uma senhora que parecia sua mulher, uma garota que lembrava sua filha e embora os tipos fossem diferentes havia algo que aproximava aquelas pessoas e que não era a pastinha debaixo do braço. Depois de largas horas, seu estômago roncando e a atendente preenchendo seus dados. Nenhuma vaga no momento. Era preciso aguardar. Sua expressão era de fadiga, a fome agora se misturava à frustração. Saiu e foi andar na Barão. Quem sabe alguém não trocava um currículo seu por um cachorro-quente e um suco. Já que o currículo era a sua única riqueza, pois ele representava toda a tentativa de Justino de tentar construir a sua vida na cidade grande, mas como não há vagas, agora não deixam ele construir mais nada.
domingo, 6 de abril de 2008
A Barbie e o Quem.
- Sabia que você é muito gostosa?
A mulher o olha reconhecendo e diz sorridente, pondo a mão na cintura:
-Obrigada. E olha que eu sou assim, nem faço nada!
– Sério!
– É. Tirando duas horas de esteira, uma de spinning, musculação e retroclass todo o dia. A drenagem línfatica, o botox e os cremes contra celulite, rugas e envelhecimento precoce, nada!
-Deus sabe fazer uma grande obra e jogou o molde fora. Mas, eu te conheço de algum lugar.
-Sabe aquele comercial que um menino cai no meio de um monte de Barbie. Eu sou uma delas.- a mulher fala, enquanto passa a mão no cabelo e sorri.
- Sabia que já tinha visto essas belas pernas em algum lugar – ele responde passando os dedos na coxa dela.
-Que bom que você lembra de mim! - Ela diz, mostrando os dentes num sorriso forçado que ele nem vê, pois está olhando para baixo enquanto chega perto da orelha dela:
- Impossível te esquecer, você é um tesão - E aperta as coxas dela, ela tenta sorrir de novo e esfrega os peitos nele que olha:
-Acho que eu vou te pagar uns peitos...
Ela passa a mão preocupada nos próprios peitos e fala esperançosa:-Você jura?
-Claro! Você bebe alguma coisa?
-260 mililitros! Ops, quer dizer...huum, uma cerveja tem 300 calorias... A, eu quero um gin tônica.
-Então, você gostou de mim? – a mulher fala sensualmente
-Claro, vamos para o meu apartamento. - Ele responde um pouco indiferente, bebendo, tirando uma nota alta da carteira e a dando ao garçom.
-Então eu vou poder posar na sua revista! - Ela pula numa alegria infantil, desta vez realmente entusiasmada.
Ele se levanta e se dirige à porta na frente dela:
-Quem sabe depois dessa noite e dos peitos...
segunda-feira, 3 de março de 2008
As mulheres rompendo barreiras
Minha mãe não quis ser super protetora. Daquelas mães que dão para cobrar, que cuidam e controlam. Ela quis ser diferente da mãe dela, quis deixar correr solto, criar os filhos para o mundo e acabou deixando de lado uma proximidade que só o amor expressado através do carinho pode significar. Ela quis ir tão contra um modelo que, além de lhe ter feito muito mal, ela julgava ultrapassado.
Eu fico pensando nessas conquistas todas da mulher que são alardeadas pelas “revistas femininas,” mas não posso esquecer que essas conquistas, além de não terem sidos muitas, também são muito recentes se pensarmos na história da humanidade. Aconteceu justamente na geração da minha mãe, a revolução feminina, a pílula, os valores despedaçados. Mas valores que, apesar de disfarçados pela dita mentalidade aberta, continuam muitos arraigados e muito machistas. Os valores tradicionais que as mulheres carregavam foram desfeitos: nenhuma mulher mais se prepara a vida inteira para servir ao marido, a casa e aos filhos – será? Foi permitido às mulheres estudar, trabalhar e é claro se afastar da famigerada dupla fogão e tanque, elas não precisam mais saber cuidar de uma casa, elas agora estão no mercado de trabalho. E aí eu pergunto se esse afastamento do digamos “lar doméstico” é saudável mesmo? Será que elas ao quererem (ou precisarem ) se apresentar de unhas feitas e dentes brancos ao mercado não as afastou demais de valores que são muito importantes na história da humanidade como a relação mãe e filho? Será que elas cometeram o mesmo equívoco da minha mãe que ao se afastar de um modelo, exagerou do outro lado?
Não defendo que todas as mulheres devem ter forno e fogão como matéria nas escolas, nem que minha mãe não tenha cumprido seu papel de educar-me e me transmitir tudo de importante que ela considerava, mas todos nós – homens e mulheres – deveríamos saber – ao menos ter noção – de como deixar a casa limpa e arrumada e fazer uma comidinha deliciosa para receber quem você ama. Simples demonstrações de afeto que não são valores femininos ou masculinos, mas que foram e vão continuar sendo valores humanos.
quinta-feira, 11 de outubro de 2007
FÁBULA VEGETARIANA*
segunda-feira, 24 de setembro de 2007
Volta, Rosicleide, volta...
Volta, Rosicleide, a vida é muito feia sem você.
MOTIVO
-Seus putos, vocês sabem que não podem jogar bola aqui. Se cair de novo, rasgo de novo.
Conforme o prometido, teimosa. Fica lá o dia inteiro cuidando das plantas e dos passarinhos, por isso é amarga desse jeito, não faz nada da vida. Custava devolver a bola, planta cresce de novo, passarinho depois fica quieto. Daqui a pouco ninguém mais vai ter bola na rua.
-Pé torto, não presta atenção, não. Lá se vai mais uma bola. Duvido que a velha não teja lá...
-Quem pula?
-Quem chutô, né, lógico. Corre. – Pulou, primeiro veio a bola, depois ele, rapidinho.
-Ela tem muita planta mesmo, e vários passarinhos, inclusive uma arara.
-Uma arara, sério? Ter arara num é crime ?
Depois de uns dias, estava um carro do IBAMA na frente da casa da velha. Os caras do carro do governo levaram vários passarinhos da velha, bem feito!
A bola só foi cair no quintal da velha de novo depois de várias semanas. Ela não saia mais gritando, nem devolvia bola rasgada. O Julio, que pulou lá pra pegar a bola dessa vez, voltou branco. Sem a bola.
-A velha tá estirada no quintal. Dura, meio verde já. Esse cheiro num é só do córrego não...
Dessa vez o carro na frente da casa da velha era do IML. A velha já tinha morrido fazia uma semana. Ninguém tinha percebido. As plantas já estavam murchas e os passarinhos que restaram muito fracos.
Um dia, depois de algum tempo, quando já não havia mais pássaros, nem plantas, a bola caiu no quintal da velha de novo. E novamente foi devolvida rasgada.
Ninguém nunca mais jogou bola lá.
quarta-feira, 29 de agosto de 2007
Soneto da (des)educação
Dos meus anos de estudo
É dever da sociedade
Não sou mais um vagabundo
Liberalista educado
Sem análise, só crítica
Me ponho de um dos lados
E a mídia me legitima
Sou formado para o mercado
Entendi a mais-valia
Fui feito para o trabalho
A escola me informou bem
Agora sou um cidadão
E não devo contas a ninguém
15.8.06
terça-feira, 26 de junho de 2007
Livros são livres
Eu não sou livro, nem livre de definições
Livres aqueles que não acreditam nos livros,
nem em definições
Afinal livros são livros:
Litros de palavras que formam as frases
Frases que informam as pessoas
Pessoas que transformam seu tempo
Pessoas são livres, assim como os livros
Para entenderem o que quiserem disso
Porque livros, mesmo livres, são apenas livros.
B.
Direitos humanos para os humanos direitos
quinta-feira, 24 de maio de 2007
A um grande amigo...
Te escrevo para te dizer que há muito não escrevo, não encontrava inspiração. Talvez estivesse procurando um motivo que jamais encontraria. O mundo onde vivemos nos desencoraja.
Para entender de realidade é preciso que se viva, por isso, amigo, vivas a você! Essa carta espera poder confortá-lo e confrontá-lo com o absurdo do amor, digo absurdo pois o próprio amor é absurdo, assim como qualquer atitude que prove a existência de tal sentimento, por isso a carta... O amor já não existe em conversas corriqueiras.
Essa carta irá encontrá-lo com saúde, levando saudades e levantando questões metafísicas de tempo e espaço, pretendo te escrever simplesmente por te escrever, não tenho muito a dizer só quero te lembrar que vale a pena resistir e insistir em ser feliz.
Gostaria de compartilhar contigo, amigo, a minha falta de esperança nesses dias que virão, fica escrito aqui a mais completa desilusão com os nossos contemporâneos, porém espero que a chama da criação continue acesa para nós, sãos.
Também gostaria de compartilhar, amigo, toda a frivolidade inevitável que vivemos, nos dias consumidos de luminosa solidão continuamos a observar o nosso bizarro mundo; Que sua busca continue constante e firme!
Enfim, meu grande amigo, essa carta vai levando um pouco de mim, para te ofertar reflexões sobre o saber-se amar, sobre como as coisas fúteis têm tanto lugar e o absurdo fica para os poucos/loucos como nós.
Reconfortantes abraços e sinceras bobagens a todos os meus amigos
(inclusive aos que eu ainda não conheço)
quinta-feira, 3 de maio de 2007
Cocozinho era expansiva embora reservada. Era muito espirituosa e queria que todos a admirassem. Gostava de conversar, mas só com gente da sua classe.
O ruim era quando estava fresca, aí a cocozinho se mostrava bem. Se esparramava por toda a parte, de acordo com a sua vontade, e com todo aquele enjôo, era triste. Não queria mais se mover do lugar e virava um terrível cocozinho mole. Não chegava a ser insuportável porque além de todo mundo gostar da cocozinho, mais por costume que por prazer, ela era necessária. Durinha, com tudo em cima, suas formas e seu perfume já eram conhecidos e todos de algum modo faziam questão de tê-la por perto.
Não era boa de papo, mas também como conversar com cocô? Serve para várias coisas, mas não dá para se divertir muito. Mostrar, exibir, mas não tentar um contato maior - isso era impossível para a cocozinho.
Cocozinho, às vezes, saia e ficava só, num canto. Pensando? Não, que cocô não pensa. Continuava querendo chamar a atenção, mas ficava isolada – não para refletir - mas para não se misturar ao resto daquela merda toda.
terça-feira, 24 de abril de 2007
sub - MISSÃO
e não que eu pense que vou ficar com você a vida toda.
Mas mesmo assim, quero que você fique bem.
Bem agora e sempre.
Mas essa barriga...
Tudo bem, ela ainda não atrapalha eu fazer boquete.
Mas você sabe, querido, todos esses anos juntos, percebi que ela vem crescendo e pior,
você nem gosta mais que eu morda ela.
Ainda mais que você fica fumando um maço todo dia,
era legal fazer alguma coisa a respeito disso.
A gente tem que lembrar: a idade vem chegando, a pele caindo, as taxas de colesterol subindo, mas, a vida segue e você sabe que eu vou continuar te amando.
Fazer o quê?
Então tá bem, amor, pode deixar que eu vou fazer o curso de primeiros-socorros por você... mas, não pára não, continua me beijando.
quinta-feira, 12 de abril de 2007
O seqüestrador lembrava do carro no outdoor. No comercial, na televisão do barraco, lá estava o carro. Merda de vida!
O publicitário estava muito feliz. Sua campanha foi um sucesso. Maravilhas da mídia de massa.
Sangue nos olhos! Ia fazer mais uma fita. O carro, o último modelo, seria dele. Ia andar igual na propaganda.
O publicitário sente o cano frio na sua cabeça genial. Pára de pensar. Recebe uma coronhada. Tudo escurece.
O seqüestrador voltava de um encontro com uma dona quando viu, parado no farol, com o mesmo glamour, o carro dos seus sonhos de consumo, só faltava uma coisa: ele dirigindo.
A campanha do carro fez tanto sucesso que o publicitário ganhou um mega desconto na concessionária e acabou saindo com o mesmo carro que a sua inteligência estava ajudando a vender.
Lá estava ele, desfilando no seu carro novo com o publicitário desacordado ao seu lado. Motor potente. Porta-mala espaçoso. Lugar deserto. O seqüestrador achou melhor guardar o publicitário bem trancado.
Embriagado pelo sucesso, o seqüestrador sai para passear com o publicitário e seu carro novo. Mexe com as mulheres na rua e quase consegue um encontro com outra dona. Passeia pelos lugares mais chiques de São Paulo, até que vê uma viatura. Faz cara de sério, mas os policiais pedem para ele parar.
O publicitário abre os olhos, só vê escuro. Falta o ar, seu corpo dói, sente medo. Ouve tiros lá fora. Vai morrer. Tão jovem e talentoso.
Quando o seqüestrador ia se encostar na parte de trás do carro, talvez para ser revistado, talvez para sacar seu revólver, um movimento brusco assusta os policiais que atiram várias vezes em sua direção.
O publicitário entoava um mantra quando uma das balas atravessa a lataria do carro e o acerta em cheio.
O carro era roubado, o seqüestrador procurado. Saiu uma grande matéria no jornal sobre o premiado publicitário morto em ação policial: “Morreu como um herói, mas não aproveitou sua conquista”.
terça-feira, 3 de abril de 2007
e nessa loucura quente
sua língua é o fósforo
que esfrega na minha caixinha.
Nesse calor eu me encaixo
No forno embaixo do seu umbigo
Sou eu, sorvete derretendo
Em cima do seu palito
E nos nossos lençóis labaredas,
as faíscas molhadas se espalham
como líquidas serpentes
sobre nossos corpos suados.
2003