sábado, 5 de maio de 2012

Cada ano que passa...

E o que nos fazemos a partir do momento em que nascemos senão envelhecer? A cada expiração estamos mais velhos, é a condição natural. A velhice é uma inesgotável fonte de sofrimento, mas a alternativa a ela é a morte, uma escolha não muito difícil. Sabemos bem que todo ser vivo, por mais ínfimo e simples que seja, tem sempre o mesmo objetivo: sobreviver, não importa quais sejam as circunstâncias. Então nosso objetivo maior é justamente ficarmos mais e mais velhos, aproveitando ao máximo esta oportunidade chamada vida que estamos tendo. Por isso comemoramos aniversários, não para lembrar que estamos cada vez mais perto da morte, mas para celebrar mais uma fatia de tempo na qual escapamos dela.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Cracolândia Expandida


Já fui assaltada três vezes em São Paulo, duas delas foi por noias – essa abreviação carinhosa pela qual chamamos os dependentes de crack. Se alguém ficou na dúvida a respeito do acento, saibam que a palavra paranoia mudou com a Reforma Ortográfica, sendo assim noia fica sem acento; mudou a palavra, a realidade continua a mesma.

Das duas vezes que fui assaltada por noias, uma delas foi na região da Luz e pasmem, isso foi em 1996 quando eu estudava naquela região. Já naquela época todos sabiam os efeitos devastadores do crack, seja pelo lado da saúde, seja pelo lado social e no entanto, a cracolândia continuou lá, aos olhos da PM e da prefeitura. Às vezes uma ação deslocava os noias de um lado ao outro, mas tudo continuava igual.

De lá para cá, muita coisa mudou. Hoje já há um certo consenso entre especialistas que esse problema é de saúde pública e não de segurança, que devemos encaminhar essas pessoas a tratamento especializado e interdisciplinar, mas aí nos deparamos com algo que a meu ver corrói muito mais a mente dos cidadãos do que qualquer droga é capaz: a ignorância e a passividade.

Como um problema que ocorre há décadas vai ser resolvido de uma hora para outra com a ação da PM? Por que nada foi feito e só agora, no começo do ano no qual teremos eleições para prefeito é que há esta ação equivocada e truculenta? Fica fácil responder se ligarmos essa ação com a favela altamente inflamável que sumiu na região e o loteamento que o nosso ilustre prefeito está fazendo desse mesmo bairro às empreiteiras que financiarão sua campanha.

Se você ao ler este último parágrafo pensou algo como : “isso sempre aconteceu” ou “ não há nada a fazer, política é assim mesmo” , reflita bem sobre quem realmente são os mortos vivos perambulando na cidade sem consciência nem esperança, talvez a resposta não seja os pobres coitados da cracolândia, mas sim os noias, viciados em gestões públicas irresponsáveis e informações manipuladas que irão como zumbis votar igual nas próximas eleições.