terça-feira, 24 de abril de 2007

sub - MISSÃO

-Amor, você sabe que eu te adoro
e não que eu pense que vou ficar com você a vida toda.
Mas mesmo assim, quero que você fique bem.
Bem agora e sempre.
Mas essa barriga...
Tudo bem, ela ainda não atrapalha eu fazer boquete.
Mas você sabe, querido, todos esses anos juntos, percebi que ela vem crescendo e pior,
você nem gosta mais que eu morda ela.
Ainda mais que você fica fumando um maço todo dia,
era legal fazer alguma coisa a respeito disso.
A gente tem que lembrar: a idade vem chegando, a pele caindo, as taxas de colesterol subindo, mas, a vida segue e você sabe que eu vou continuar te amando.
Fazer o quê?
Então tá bem, amor, pode deixar que eu vou fazer o curso de primeiros-socorros por você... mas, não pára não, continua me beijando.

quinta-feira, 12 de abril de 2007

O SEQÜESTRADOR E O PUBLICITÁRIO

O seqüestrador lembrava do carro no outdoor. No comercial, na televisão do barraco, lá estava o carro. Merda de vida!

O publicitário estava muito feliz. Sua campanha foi um sucesso. Maravilhas da mídia de massa.

Sangue nos olhos! Ia fazer mais uma fita. O carro, o último modelo, seria dele. Ia andar igual na propaganda.

O publicitário sente o cano frio na sua cabeça genial. Pára de pensar. Recebe uma coronhada. Tudo escurece.

O seqüestrador voltava de um encontro com uma dona quando viu, parado no farol, com o mesmo glamour, o carro dos seus sonhos de consumo, só faltava uma coisa: ele dirigindo.

A campanha do carro fez tanto sucesso que o publicitário ganhou um mega desconto na concessionária e acabou saindo com o mesmo carro que a sua inteligência estava ajudando a vender.

Lá estava ele, desfilando no seu carro novo com o publicitário desacordado ao seu lado. Motor potente. Porta-mala espaçoso. Lugar deserto. O seqüestrador achou melhor guardar o publicitário bem trancado.

Embriagado pelo sucesso, o seqüestrador sai para passear com o publicitário e seu carro novo. Mexe com as mulheres na rua e quase consegue um encontro com outra dona. Passeia pelos lugares mais chiques de São Paulo, até que vê uma viatura. Faz cara de sério, mas os policiais pedem para ele parar.

O publicitário abre os olhos, só vê escuro. Falta o ar, seu corpo dói, sente medo. Ouve tiros lá fora. Vai morrer. Tão jovem e talentoso.

Quando o seqüestrador ia se encostar na parte de trás do carro, talvez para ser revistado, talvez para sacar seu revólver, um movimento brusco assusta os policiais que atiram várias vezes em sua direção.

O publicitário entoava um mantra quando uma das balas atravessa a lataria do carro e o acerta em cheio.

O carro era roubado, o seqüestrador procurado. Saiu uma grande matéria no jornal sobre o premiado publicitário morto em ação policial: “Morreu como um herói, mas não aproveitou sua conquista”.

terça-feira, 3 de abril de 2007

Você me acende, me ilumina,
e nessa loucura quente
sua língua é o fósforo
que esfrega na minha caixinha.

Nesse calor eu me encaixo
No forno embaixo do seu umbigo
Sou eu, sorvete derretendo
Em cima do seu palito

E nos nossos lençóis labaredas,
as faíscas molhadas se espalham
como líquidas serpentes
sobre nossos corpos suados.
2003