quinta-feira, 12 de abril de 2007

O SEQÜESTRADOR E O PUBLICITÁRIO

O seqüestrador lembrava do carro no outdoor. No comercial, na televisão do barraco, lá estava o carro. Merda de vida!

O publicitário estava muito feliz. Sua campanha foi um sucesso. Maravilhas da mídia de massa.

Sangue nos olhos! Ia fazer mais uma fita. O carro, o último modelo, seria dele. Ia andar igual na propaganda.

O publicitário sente o cano frio na sua cabeça genial. Pára de pensar. Recebe uma coronhada. Tudo escurece.

O seqüestrador voltava de um encontro com uma dona quando viu, parado no farol, com o mesmo glamour, o carro dos seus sonhos de consumo, só faltava uma coisa: ele dirigindo.

A campanha do carro fez tanto sucesso que o publicitário ganhou um mega desconto na concessionária e acabou saindo com o mesmo carro que a sua inteligência estava ajudando a vender.

Lá estava ele, desfilando no seu carro novo com o publicitário desacordado ao seu lado. Motor potente. Porta-mala espaçoso. Lugar deserto. O seqüestrador achou melhor guardar o publicitário bem trancado.

Embriagado pelo sucesso, o seqüestrador sai para passear com o publicitário e seu carro novo. Mexe com as mulheres na rua e quase consegue um encontro com outra dona. Passeia pelos lugares mais chiques de São Paulo, até que vê uma viatura. Faz cara de sério, mas os policiais pedem para ele parar.

O publicitário abre os olhos, só vê escuro. Falta o ar, seu corpo dói, sente medo. Ouve tiros lá fora. Vai morrer. Tão jovem e talentoso.

Quando o seqüestrador ia se encostar na parte de trás do carro, talvez para ser revistado, talvez para sacar seu revólver, um movimento brusco assusta os policiais que atiram várias vezes em sua direção.

O publicitário entoava um mantra quando uma das balas atravessa a lataria do carro e o acerta em cheio.

O carro era roubado, o seqüestrador procurado. Saiu uma grande matéria no jornal sobre o premiado publicitário morto em ação policial: “Morreu como um herói, mas não aproveitou sua conquista”.

Nenhum comentário: