segunda-feira, 13 de outubro de 2008

RELATÓRIO DO PROJETO No 28 333 321-2

1.0 Resumo das atividades outono/inverno
As atividades seguem normalmente: trampo, balada, amor e embriaguês. Não necessariamente nesta ordem, mas muitas vezes misturados. A conciliação entre esses elementos está gerando dificuldades e as tentativas até agora sugerem que a solução seja eliminar um destes elementos. A coordenação sugere que seja o trampo, porém o responsável do setor administrativo vetou esta possibilidade. Estuda-se, então, que o amor seja o elemento eliminado.
Dentre as várias atividades, é importante ressaltar o ócio e o sedentarismo, combinado com uma alimentação rica em queijos derretidos e suco de cevada. O sono tem sido muito em umas noites e pouco em outras, sempre pesado e acompanhado também do peso da cabeça que, em alguns dias, tem se tornado tão grande que fica difícil sustentá-la, principalmente na atividade balada. Quando isto acontece, o coordenador Bode assume e a balada termina. Bode e os outros coordenadores afirmam haver relação entre o sedentarismo e ócio, ele expõe esta opinião todos os dias durante a balada.
Em relação ao amor fica colocada a questão da necessidade, a coordenação afirma ser imprescindível, mas o setor administrativo coloca que, além de causar um ônus enorme ao projeto, o amor ocupa muito tempo de nossos esforços. Apesar de concordar que os lucros são bons, acusa que a falta de regularidade compromete o andamento de todos os setores. A coordenação se mostrou irredutível até o momento.
A embriagues tem sido umas das atividades na qual a coordenação está mais empenhada. Embora o custo, às vezes, mostre-se alto, enquanto os gastos mantiverem-se dentro do cronograma previsto, não haverá redução, principalmente devido à relação intrínseca entre a embriagues e a balada. A redução das duas atividades só será estudada pela coordenação, se houver danos significativos às outras.
Quanto à possibilidade de acrescentar outras atividades ao projeto tais como arte, caridade e esportes, a coordenação, até agora, tem mostrado-se resistente.
Sem mais para o momento.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

O mundo possível


  1. Justino sabia bem do que se tratava. Era fácil perceber: as pessoas saindo de casa por volta da oito da manhã, arrumadas, com a reconhecível pastinha na mão e a esperança nos olhos. Ele sabia que para resolver o problema era necessário ir ao fundo dele, revolver e trazer a tona o que estava em seu âmago, era preciso ir ao centro do problema: Estação República, o centro da cidade que recolhe, mas não acolhe. Não gostava de ser chamado de peão, mas também não entendia o porquê do nome construção civil. Existiriam outros tipos de construções? Os viadutos e prédios públicos que ele construíra eram civis? E o barraco onde morava? Aquilo também era construção civil. Naquele momento, na fila, isso não importava. A carteira de trabalho no bolso e a apreensão no olhar – via que tinha gente de todo o tipo na fila: uma senhora que parecia sua mulher, uma garota que lembrava sua filha e embora os tipos fossem diferentes havia algo que aproximava aquelas pessoas e que não era a pastinha debaixo do braço. Depois de largas horas, seu estômago roncando e a atendente preenchendo seus dados. Nenhuma vaga no momento. Era preciso aguardar. Sua expressão era de fadiga, a fome agora se misturava à frustração. Saiu e foi andar na Barão. Quem sabe alguém não trocava um currículo seu por um cachorro-quente e um suco. Já que o currículo era a sua única riqueza, pois ele representava toda a tentativa de Justino de tentar construir a sua vida na cidade grande, mas como não há vagas, agora não deixam ele construir mais nada.

domingo, 6 de abril de 2008

A Barbie e o Quem.

Uma mulher bonita e gostosa, mini-saia, sentada num banquinho, encostada no balcão de um bar chique. Um homem gordo, baixinho, careca – o típico homem sem graça – se aproxima bem perto do rosto dela e diz no seu ouvido, de maneira invasiva:
- Sabia que você é muito gostosa?
A mulher o olha reconhecendo e diz sorridente, pondo a mão na cintura:
-Obrigada. E olha que eu sou assim, nem faço nada!
– Sério!
– É. Tirando duas horas de esteira, uma de spinning, musculação e retroclass todo o dia. A drenagem línfatica, o botox e os cremes contra celulite, rugas e envelhecimento precoce, nada!
-Deus sabe fazer uma grande obra e jogou o molde fora. Mas, eu te conheço de algum lugar.
-Sabe aquele comercial que um menino cai no meio de um monte de Barbie. Eu sou uma delas.- a mulher fala, enquanto passa a mão no cabelo e sorri.
- Sabia que já tinha visto essas belas pernas em algum lugar – ele responde passando os dedos na coxa dela.
-Que bom que você lembra de mim! - Ela diz, mostrando os dentes num sorriso forçado que ele nem vê, pois está olhando para baixo enquanto chega perto da orelha dela:
- Impossível te esquecer, você é um tesão - E aperta as coxas dela, ela tenta sorrir de novo e esfrega os peitos nele que olha:
-Acho que eu vou te pagar uns peitos...
Ela passa a mão preocupada nos próprios peitos e fala esperançosa:-Você jura?
-Claro! Você bebe alguma coisa?
-260 mililitros! Ops, quer dizer...huum, uma cerveja tem 300 calorias... A, eu quero um gin tônica.
-Então, você gostou de mim? – a mulher fala sensualmente
-Claro, vamos para o meu apartamento. - Ele responde um pouco indiferente, bebendo, tirando uma nota alta da carteira e a dando ao garçom.
-Então eu vou poder posar na sua revista! - Ela pula numa alegria infantil, desta vez realmente entusiasmada.
Ele se levanta e se dirige à porta na frente dela:
-Quem sabe depois dessa noite e dos peitos...

segunda-feira, 3 de março de 2008

As mulheres rompendo barreiras


Minha mãe não quis ser super protetora. Daquelas mães que dão para cobrar, que cuidam e controlam. Ela quis ser diferente da mãe dela, quis deixar correr solto, criar os filhos para o mundo e acabou deixando de lado uma proximidade que só o amor expressado através do carinho pode significar. Ela quis ir tão contra um modelo que, além de lhe ter feito muito mal, ela julgava ultrapassado.

Eu fico pensando nessas conquistas todas da mulher que são alardeadas pelas “revistas femininas,” mas não posso esquecer que essas conquistas, além de não terem sidos muitas, também são muito recentes se pensarmos na história da humanidade. Aconteceu justamente na geração da minha mãe, a revolução feminina, a pílula, os valores despedaçados. Mas valores que, apesar de disfarçados pela dita mentalidade aberta, continuam muitos arraigados e muito machistas. Os valores tradicionais que as mulheres carregavam foram desfeitos: nenhuma mulher mais se prepara a vida inteira para servir ao marido, a casa e aos filhos – será? Foi permitido às mulheres estudar, trabalhar e é claro se afastar da famigerada dupla fogão e tanque, elas não precisam mais saber cuidar de uma casa, elas agora estão no mercado de trabalho. E aí eu pergunto se esse afastamento do digamos “lar doméstico” é saudável mesmo? Será que elas ao quererem (ou precisarem ) se apresentar de unhas feitas e dentes brancos ao mercado não as afastou demais de valores que são muito importantes na história da humanidade como a relação mãe e filho? Será que elas cometeram o mesmo equívoco da minha mãe que ao se afastar de um modelo, exagerou do outro lado?

Não defendo que todas as mulheres devem ter forno e fogão como matéria nas escolas, nem que minha mãe não tenha cumprido seu papel de educar-me e me transmitir tudo de importante que ela considerava, mas todos nós – homens e mulheres – deveríamos saber – ao menos ter noção – de como deixar a casa limpa e arrumada e fazer uma comidinha deliciosa para receber quem você ama. Simples demonstrações de afeto que não são valores femininos ou masculinos, mas que foram e vão continuar sendo valores humanos.