sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Série Relatos da crise : A história não vem.

As pessoas aparecem, somem, surtam e se vão. E a garota do mundo sem ideias só entende de viver sua vidinha sem sal e sem fermento.
Só seu trabalho e suas mazelas lhe interessam agora. Ela não quer saber da beleza do mundo e dos avanços na sociedade. Ela só fica olhando para o canto de sua imensa sala, pensando em como aperfeiçoar a vida medíocre que ela criou.
Talvez trocar os móveis de lugar, tingir seu vestido branco, esganar sua colega, nada que ela terá coragem de fazer.
O único momento em que consegue não pensar na enorme estagnação de seu quintal é quando se entorpece de diversões baratas, que nada agregam a sua realidade fácil e óbvia. Mas mesmo assim ela continua pensando, só pensando e pesando, cada vez mais e sem utilidade.
Até seus amigos não a veem mais, eles se cansaram de esperá-la, esperar que ela termine seu trabalho, regue suas plantas, tire seus cravos, faça o almoço, enfim, ela sempre está ocupada com o útil, com o pontual, com o politicamente correto.
E agora sim sua vida pode passar no horário nobre, sem restrições; pena que não interesse a ninguém assisti-la.

Série Relatos da crise: 29 anos

Já viveu um quarto de século
10 quilos a mais
1 Graduação
1 Casamento
Emprego fixo
Não mais poesia
É, Bárbara, você achou
Que ia ser fácil,
Mas você está
No mesmo barco
Mediocrizado
Suas banhas
As marcas na sua pele
Seus vícios vulgares
Sua dor de barriga
É assim que tem que ser
Se quiser ter
Terá que pagar o preço
Do começo
Do que a gente chama
De vida civilizada
Uma gastrite
Uma dívida
Mais uma celulite...

b.
numa noitequenteeraradeinverno3deagostodedoismilenovenumatpmenumjejumdequaseumanosemescrever