sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Série Relatos da crise : A história não vem.

As pessoas aparecem, somem, surtam e se vão. E a garota do mundo sem ideias só entende de viver sua vidinha sem sal e sem fermento.
Só seu trabalho e suas mazelas lhe interessam agora. Ela não quer saber da beleza do mundo e dos avanços na sociedade. Ela só fica olhando para o canto de sua imensa sala, pensando em como aperfeiçoar a vida medíocre que ela criou.
Talvez trocar os móveis de lugar, tingir seu vestido branco, esganar sua colega, nada que ela terá coragem de fazer.
O único momento em que consegue não pensar na enorme estagnação de seu quintal é quando se entorpece de diversões baratas, que nada agregam a sua realidade fácil e óbvia. Mas mesmo assim ela continua pensando, só pensando e pesando, cada vez mais e sem utilidade.
Até seus amigos não a veem mais, eles se cansaram de esperá-la, esperar que ela termine seu trabalho, regue suas plantas, tire seus cravos, faça o almoço, enfim, ela sempre está ocupada com o útil, com o pontual, com o politicamente correto.
E agora sim sua vida pode passar no horário nobre, sem restrições; pena que não interesse a ninguém assisti-la.

2 comentários:

Gabriel Correa disse...

poesia em prosa, quase que como se fosse falada e jamais declamada... e viva as diversões baratas

Barbara Falcão disse...

1. Viva!
2. Viva!
3. Viva!